terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Máquina do Tempo [1960]



No seculo 19 houve quem viajasse para o seculo 80327! " As pessoas sérias que o levavam a sério nunca tinham bem a certeza do seu comportamento; tinham, de determinada forma, consciência de que confiar nas suas capacidades para o avaliarem era o mesmo que encher um quarto de crianças com a porcelana mais fina." in A maquina do Tempo pj14
Com um diferencial secular destes qualquer um de nós pode ser um Wells, só falta o dom da palavra, e escolher entre a porcelana e a criança!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Máquina do Tempo


“- Falei na passada quinta-feira a alguns de vós nos princípios da Máquina do Tempo, e mostrei-vos o objecto real, incompleto na oficina. Ali se encontra agora, um pouco cansada da viagem, é certo; uma das barras de marfim está fendida e um corrimão de latão dobrado; mas, no resto, tudo funciona. Esperava acabá-la na próxima sexta-feira, mas na sexta-feira, quando estava quase toda montada, descobri que uma das barras de níquel tinha rigorosamente uma polegada a menos, e foi preciso refazê-la; por isso só ficou concluída esta manhã. Foi às dez da manhã de hoje que a primeira de todas as Máquinas do Tempo começou a funcionar.”

In A máquina do Tempo de H. G. Wells

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eles já sabiam

“ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e por corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”

Eça de Queiróz, 1867 in "O Distrito de Évora"

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A amizade não conhece nem espécie nem tamanho nem fronteiras. É-se amigo porque se é, e porque sim!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


" Estou bem, onde não estou, e quero ir e vou, mas não sei para onde"

Quantas vezes olhamos para o que não gostamos nos outros e nos esquecemos de olhar para nós
Aspásia a cortesã

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Corpo de letra




pormenor de o abraço

C. Franco


WHY I AM NOT A PAINTER

I am not a painter, I am a poet.
Why? I think I would rather be
a painter, but I am not. Well,

for instance, Mike Goldberg
is starting a painting. I drop in.
«Sit down and have a drink» he
says. I drink; we drink. I look
up. «You have SARDINES in it.»
«Yes, it needed something there.»
«Oh.» I go and the days go by
and I drop in again. The painting
is going on, and I go, and the days
go by. I drop in. The painting is
finished. «Where’s SARDINES?»
All that’s left is just
letters, « It was too much», Mike says.

But me? One day I am thinking of
a color: orange. I write a line
about orange. Pretty soon it is a
whole page of words, not lines.
Then another page. There should be
so much more, not orange, of
words, of how terrible orange is
and life. Days go by. It is even in
prose, I am a real poet. My poem
is finished and I haven’t mentioned
orange yet. It’s twelve poems, I call
it ORANGES. And one day in a gallery
I see Mike’s painting, called SARDINES.


Frank O'Hara

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Verão de S. Martinho



A chegada daqueles hóspedes bem-vindos fez adiar o regresso a Palermo, e seguiram-se duas semanas de encantamento. O furacão que acompanhara a viagem dos dois oficiais fora o último de uma série e depois dele resplandeceu o verão de S. Martinho, a verdadeira estação da volupia na Sicília: estação luminosa e azul, oásis de mansidão na rude sequência das estações, cuja moleza persuade e perverte os sentidos e cuja tepidez convida a nudezas secretas. Não se pode dizer que hovesse nudezas eróticas no Palácio de Donnafugata mas a sensualidade alastrava....



In O Leopardo















A Lenda


Martinho era um soldado romano, valente e valioso, que regressava de Itália para a sua terra, em França.

Na viagem, cruzou-se com um mendigo que tremia de frio, devido à chuva que caía com intensidade. Sentindo piedade daquela alma que lhe pedia esmola, Martinho não hesitou em partilhar a sua capa militar, pegou na espada e cortou a capa ao meio.
Quando se preparava para seguir viagem, a chuva parou de cair, os céus abriram-se e o sol começou a brilhar. Assim ficou o tempo durante alguns dias. Diz-se que foi recompensa divina.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Caça

Quando os caçadores chegaram ao cimo do monte, por entre as tamargueiras e os sobreiros ralos surgiu o verdadeiro rosto da Sicília, rosto que converte cidades barrocas e laranjais em ninharias desprezíveis. A paisagem árida ondulava até ao infinito, colina após colina desolada e irracional....


in O Leopardo




quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cats and Blogs




Pedro entra em casa e é logo afagado pela gata que salta do maple chippendale que herdara da avó. Fica com ela ao colo, a Gata, enquanto desata as botas e pensa no que vai fazer à televisão. Deitá-la pela janela?
Coelhinha fecha a porta de entrada, encosta-se suspirando, olha o computador sobre o estirador ainda com as pontas dos cigarros da noite anterior e ouve o miar de Inês enfiada na casa de banho, enquanto parece lobrigar a sombra de Rocky no escritório a enrolar um cigarro. Não tem vontade de ir ao Bordel esta noite. Sorri. Decide então pôr a correr a água do banho.
Ronny Pornógrafo não tem gata e mal chega a casa começa a cantar um tema de Roberto Carlos, a namorada, e lembra-se de telefonar a Laura. Lady Laura me leva pra casa, pede através do auscultador. Me conte uma estória Lady Laura. O Bordel não basta. Prefiro a quentura do seu lar Lady Laura.
Lady Laura assim que desliga o celular apanha com o gato Floripis em cima e bate com a cabeça no monitor que se avaria e de imediato deixa de mostrar a imagem pura do Bordel. Marina a outra gata da casa surge a correr em pezinhos felídeos e lança-se a Floripis que de imediato começa a ronronar. Mais uma despesa, sacanas dos gatos, desabafa Laura entre dentes massajando a cabeça.
Entrementes Zeb lança mais dois postes no meio da pista do bordel com iluminuras alusivas à próxima festa bordelesca.
Atrasada como sempre Odelesca conduz a cento e vinte na auto route do oeste em pontas,as suas pontas dos pés,enquanto lê a caras. Nisto toca o celular mostrando o número de Ana a pistoleira. Odelesca atende bocejando enquanto identifica a custo uma personagem do beautiful people da Madragoa numa vernissage. Ana pistolei ra tem dois gatos para oferecer. Havia-os livrado de afogamento. Odelesca aceita, claro.
Por essa altura já Pedro deitou o televisor pela janela guardando uma válvula na vitrine.
Há uma guida.Acaba de fazer uma máquina de roupa e prepara o almoço do dia seguinte antes de armar o cabelo. A guida não tem gato, porém tem homem. Faz dele gato e é por ele que que se profana e assim, mais uma vez, não vai ao bordel.