terça-feira, 5 de outubro de 2010

Quem Pode vai

Tarde no final. Vinte e três de Junho. A segunda feira ia perdendo lentamente o seu bafo quente e via passar nas ruas velhas de Almada a procissão. São João Baptista saíra da Igreja Velha e caminhava para a Ramalha baloiçando aos ombros dos acólitos. Os meninos anjos seguiam um pouco atrás. Azul celeste. Depois a Filarmónica. Mais atrás as beatas cantavam hinos com os corações pouco incendiados, tristonhas em desafino. Ao passar na Capitão Leitão os velhos da taberna Lenine no seu terraço debruçavam-se para ver passar o santo, palitando os dentes, vinosos, do pratinho das moelas. Em frente, até os funcionários permanentes do partido e os avelhentados que ali se costumavam reunir em reumáticas cavaqueações vieram à porta , o que não só impedia de lançar um ou outro escarro na calçada, onde muita gente observava com nostalgia.

Almada 1987

Sem comentários: